Arrecadação federal tem pior resultado para junho desde 2004. Apesar da pandemia ter reduzido a atividade econômica, maior responsabilidade está no receituário de Paulo Guedes e Bolsonaro
A arrecadação federal caiu de R$ 119,946 bilhões, de junho de 2019, para R$ 86,258 bilhões, no mesmo mês deste ano, o que representa 29,59%, com correção inflacionária, de acordo com informe da Receita Federal. Sem correção, a queda é de 28,08%. Segundo o órgão, é o pior resultado para junho desde 2004, que registrou arrecadação de R$ 78,6 bilhões. No acumulado do ano, a arrecadação, de 665,9 bilhões, também caiu. Foi 14,71% inferior ao registrado no mesmo período do ano passado.
Para o economista Ladislau Dowbor, embora a pandemia de coronavírus tenha, em parte, colaborado para o resultado, já que houve redução de uma série de atividades, esse não é o principal fator do tombo da arrecadação. Isso já era claramente antecipado pela queda de 1,5% do PIB brasileiro no primeiro trimestre, antes do impacto da pandemia. “A partir da terceira semana de março, já tinha o coronavírus, mas do lado sanitário e não do lado econômico”, diz.
Segundo ele, o receituário da política econômica do ministro da Economia, Paulo Guedes, não incentiva nenhum otimismo. “Com o teto de gastos, que prejudica a população, a redução de direitos trabalhistas etc., se reduz a demanda. As empresas estão trabalhando com menos de 70% de sua capacidade, porque não têm a quem vender. Se não têm a quem vender, não contratam. Então, grande parte do nosso sistema produtivo está parado”, avalia Dowbor.
Fora esse ambiente negativo, ainda há os juros, não para grandes empresas, que pegam dinheiro barato fora do país, mas para as pequenas e médias, que é de 44%. “Imagina a produtividade que o empresário tem que ter para pagar 44% de juros, devolver o empréstimo e ainda sobreviver.”
Entradas e saídas
Mas a questão, observa o economista, é que dinheiro existe, apesar do discurso fiscalista do governo. “Encontraram R$ 1,2 trilhões para repassar aos bancos, ‘imaginando’ que iam dinamizar a economia. E continuam a drenar o dinheiro para os grandes grupos financeiros, que não dinamizam a economia. Com isso, se paralisa o consumo e também a atividade empresarial”, observa o economista.
“No nosso caso, o problema não é nem de onde vem o dinheiro, mas pra onde vai. Tivemos uma transferência muito limitada, dos R$ 600 de auxílio emergencial, que faz diferença para os mais pobres, mas isso representa, em ordem de grandeza, de 12% a 15% desse R$ 1,2 trilhão que foi pros bancos.”
O economista observa ainda que, ao drenar o dinheiro para os grandes grupos financeiros, que não dinamizam a economia, Paulo Guedes colabora para a paralisação do consumo e também a atividade empresarial, consequentemente reduzindo tanto a arrecadação de impostos sobre consumo como sobre produção. Portanto, a queda na arrecadação tributária federal tem causas claras.
Biografia
Fora o ambiente hostil, há ainda má vontade do governo em meio da pandemia de covid-19. Até o início de julho, apenas 17% dos recursos de programas de financiamento do governo Jair Bolsonaro foram destinados até agora às empresas do país.
O governo segue com a cartilha do “equilíbrio fiscal”, como justificativa para deprimir investimentos do Estado. “Mas o mecanismo é simples. O equilibro das contas se faz aumentando a receita, dinamizando a base econômica, e não reduzindo os gastos do Estado, fazendo com que a população não consuma, o que faz com que se entre no ciclo descendente da economia.”
Dowbor lembra, aliás, que essa política não se dá por acaso. A “biografia” do ministro da Economia de Bolsonaro não engana. Em texto publicado após a eleição do atual presidente, a revista britânica The Economist, uma das mais importantes do mundo na área econômica, informava: “Paulo Guedes, que estudou na Universidade de Chicago e co-fundou o BTG Pactual, o principal banco de investimentos do Brasil.”
FONTE: REDE BRASIL ATUAL
FOTO: Wikipedia