Mulheres transformam ocupação de galpão abandonado em casa de referência

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Casa de Referência Laudelina de Campos Melo leva acolhimento, proteção e apoio a mulheres trabalhadoras vítimas de violência

A ocupação de um antigo galpão abandonado há mais de 40 anos é a mais nova casa de referência organizada pelo Movimento de Mulheres Olga Benário. O imóvel localizado no bairro do Canindé, na capital paulista, foi ocupado na madrugada de quarta-feira (27) e desde então 70 mulheres se revezam na limpeza, na segurança e no atendimentos às mulheres que já procuram o espaço em busca de acolhimento e orientação. Há algumas mesas no local, mas faltam cadeiras e demais móveis necessários para deixar o local mais adequado.

Ainda não há água encanada e energia elétrica. Então, é a solidariedade da vizinhança, de movimentos sociais e da Pastoral do Povo de Rua que tem ajudado com alimentos, água e outros itens essenciais para o funcionamento. Isso porque o bairro é muito carente. No entorno da ocupação há muitos cortiços, residências precárias e muitas famílias em situação de rua, em muitos casos chefiadas por mulheres trabalhadoras, que vivem expostas a todo tipo de violência, conta a estudante de Políticas Públicas Isis Mustafá, coordenadora da ocupação.

O nome da casa foi escolhido para homenagear a mulher negra mineira Laudelina de Campos Melo (1904-1991). Filha de escravos alforriados, não conheceu a escola, mas o trabalho infantil. Aos 7 anos começou a trabalhar como doméstica. Em 1936, em Santos, fundou o primeiro sindicato de empregadas domésticas no Brasil.

Mulheres de luta

A criação da Casa de Referência é uma das respostas possíveis do movimento de mulheres à negligência do poder público. As mulheres são as maiores vítimas da política de morte adotada pelo governo de Jair Bolsonaro em relação à pandemia de covid-19, que já matou mais de 224 mil pessoas no país. As que conseguem driblar o vírus e não adoecem, enfrentam o desemprego, a violência dentro de casa e o abandono pelo poder público.

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostra que no primeiro semestre de 2020 o número de feminicídios aumentou 7% em comparação com o mesmo período do ano anterior, quando três mulheres eram assassinadas todos os dias.

Retrato do que acontece no resto do país, a violência de gênero cresceu 64% entre 2016 e 2019, segundo o Mapa da Desigualdade de 2020. No mesmo período, o feminicídio aumentou 72%. O aumento, porém, não foi acompanhado da oferta de políticas públicas de prevenção e enfrentamento. Pelo contrário.

Quando prefeito, João Dória (PSDB) cortou R$ 3,5 milhões dos serviços de atendimento à mulheres que sofreram violência de gênero. Seguindo a mesma política de abandono, o prefeito Bruno Covas anunciou em dezembro novo corte nos contratos municipais. Com isso, os equipamentos públicos que atendem mulheres vítimas de violência vão sendo sucateados e desmontados enquanto o tucano aumenta seu próprio salário em 46%, passando então de R$ 35 mil.

De acordo com o Movimento de Mulheres Olga Benário, a capital paulista tem apenas três centros de referência da mulher, quinze centros de defesa e convivência da mulher, sete casas abrigo, uma casa de acolhimento provisório e uma unidade da Casa da Mulher Brasileira.

FONTE: REDE BRASIL ATUAL
FOTO: Movimento de Mulheres Olga Benário