Bons resultados são notados com 84% dos adultos vacinados. Entretanto, cuidados ainda são necessários, especialmente no combate às fake news
A vacinação avançada contra a covid-19 no Território Indígena do Xingu já apresenta bons resultados. Os vacinados são 84% de todos os adultos entre as 16 etnias que habitam a região. Com a imunização rápida de quase toda a comunidade, a média de casos diários de mortes pela doença está próxima a zero (0,1 mortes diárias por covid em abril). De acordo com o boletim epidemiológico apresentado pelo Instituto Socioambiental (ISA) ontem (31), ao menos 115 indígenas estão infectados no momento. Entretanto, com baixa gravidade.
Os bons indicadores são confirmados pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e pelo Comitê Nacional de Vida e Memória Indígena. Desde o início da pandemia, foram 1.311 casos confirmados em todo o território, com 18 mortes. Com prioridade no processo de vacinação, equipes de Saúde percorrem as aldeias para aplicar os imunizantes, além de conscientizar sobre cuidados necessários e combater mentiras e fake news.
“Os cuidados continuam: distanciamento social, uso de máscara e higienização das mãos. Os casos voltaram a aumentar nas últimas semanas devido à flexibilização por parte dos xinguanos”, afirma o Instituto Socioambiental. A coordenadora da área técnica de imunização do Programa Xingu, da Unifesp, Evelin Plácido, reforça a necessidade de cuidados e de combater a desinformação. “O grande desafio é levar conhecimento e segurança para as comunidades que ainda temem a vacina”, disse.
Curva de mortes por covid-19 em etnias no estado do Mato Grosso, onde está localizada boa parte do território do Xingu. Fonte: Apib
Informação
No momento, equipes do ISA e da Associação Terra Indígena Xingu (Atix) realizam uma nova rodada de vacinação entre as etnias, para conscientizar aqueles que recusaram em outras oportunidades. “As fake news, que atrapalham a vacinação desde fevereiro, continuam inibindo alguns indígenas a se vacinarem. Notícias falsas associando a vacinação ao ‘retorno da besta’, à implantação de um chip e mesmo a casos de morte tem assustado muitos indígenas, que acabam recusando um instrumento que poderia salvar suas vidas”, relata comunicado do ISA.
Os cientistas que atuam na região defendem que o diálogo direto é necessário para desconstruir as narrativas negacionistas. Winti Kisedje foi vacinado e, após isso, foi infectado com a covid-19. A doença evoluiu de forma leve. “A vacina ajudou muito, por isso acho que aqui na aldeia não tem ninguém com caso grave e preocupante até agora. Até mesmo pessoas que nem sentem que está com vírus e só quando testa dá positivo. Quem sente mais sintomas de febre são só os mais velhos, mas nada grave. Até agora tudo tranquilo”, disse.
Logística
O ISA argumenta que os principais desafios, além da conscientização, tem relação com a logística de transportes. A expertise em campanhas anteriores de vacinação contribuem com a possibilidade de alcance. “A tradição e experiência do Projeto Xingu com a vacinação no território auxiliou na logística para a campanha contra a covid-19 (…) Uma vez no território, as doses dependem de um sistema para transporte e armazenamento que mantém as doses sempre entre 2° e 8° C. As equipes utilizam uma rede de refrigeradores espalhadas pelo território e caixas térmicas especiais. O sistema já havia sido montado para outras campanhas de vacinação e foi essencial para a da covid-19”, explica o instituto.
Com informações do Instituto Socioambiental e da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil
Fonte: Rede Brasil Atual