Presidente da Câmara diz que governo já admite racionamento e alta na conta

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Arthur Lira vê possibilidade de crise energética nos mesmos moldes do período lembrado como “apagão de FHC”, referência à crise que durou nove meses no governo do ex-presidente tucano

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), admitiu que o governo federal já fala em racionamento de energia. Disse também ver a possibilidade de aumento de tarifas por conta do cenário de crise que o país vive hoje, parecido, na visão do próprio deputado alagoano, com o período conhecido como “apagão de FHC”, entre 2001 e 2002. Na ocasião, o Brasil enfrentou, sob o governo do ex-presidente tucano, nove meses de dificuldades no fornecimento e distribuição de energia elétrica.

“Falou-se em racionamento, na economia (de energia)”, disse Lira após reunião com o ministro de Minas e Energia, Beto Albuquerque, na manhã da terça-feira (15), em sua residência oficial. “Mas não acredito que tenha apagão. Pode ter energia mais cara por causa do uso das térmicas”, disse Lira, citando usinas que não dependem da água para produzir energia. Porém, as térmicas são mais poluentes e têm custo operacional maior. “O problema agora é de gerenciamento de reservatórios. É melhor ter um dano controlado do que um descontrolado”, acrescentou.

Atualmente, as situações mais críticas estão em Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná. Por enquanto, a única medida que o governo federal anunciou, além do acionamento das termelétricas, foi o aumento de importação de energia elétrica da Argentina e Uruguai. Medidas que até os diretores da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) entendem serem de curto prazo.

Energia 20% mais cara

“A partir de agora, com a bandeira vermelha e alta no custo de energia, aumenta a pressão (desse custo) na produção das empresas. Assim, além da inflação dos alimentos e combustíveis, vai haver uma despesa maior, se for preciso recorrer às termelétricas, mais caras, porque dependem de óleo diesel. Esse cenário vai afetar os índices de inflação.” É desta forma que a já esperada crise energética vai afetar o bolso do trabalhador, descreveu o economista Cesar Bergo, sócio-consultor da Corretora OpenInvest, para o Correio Braziliense. Ele calcula 20% a mais na conta do consumidor residencial.

O também economista Étore Sanchez avalia que “para 2022, a situação é marginalmente mais grave, uma vez que entramos no período seco em nível muito baixo e a eventual reversão dependerá de um grande regime de chuvas no período compreendido entre janeiro e março.” Ele refere-se aos níveis dos reservatórios de água do país, os piores desde que foram iniciadas as medições, em 1931.

Segundo o ONS, as represas das hidrelétricas da região Sudeste e Centro-Oeste, responsáveis por mais da metade da produção energética brasileira, estão com cerca de um terço da capacidade. O Operador ressalta ainda que o Brasil está apenas no começo do período de estiagem, que deve durar até meados de setembro. Por sua vez, o Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) emitiu um comunicado de emergência hídrica a órgãos de meteorologia federais e ao Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden). É o primeiro alerta deste tipo em 111 anos.

Apagão de FHC

O chamado “apagão”, no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) durou de 17 de maio de 2001 a 19 de fevereiro de 2002. Na ocasião, o tucano impôs um racionamento programado de energia a fim de reduzir o consumo geral em 20%. Residências e indústrias do Distrito Federal e outros 16 estados das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste que não cumprissem as metas, recebiam multas escalonadas.

O “apagão do FHC” forçou também a redução da iluminação pública de ruas, monumentos, outdoors, fachadas de prédios etc. Foram proibidas atividades como competições esportivas, culturais e festas durante a noite. Além disso, a população foi levada a usar lâmpadas mais econômicas.

Fonte: Rede Brasil Atual