A entidade entende que a maior parte das mortes poderia ter sido evitada e defende isolamento social
O coordenador do Comitê de Crise da Covid-19 do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), Walkirio Almeida, classificou de “gravíssima” a situação de enfermagem hoje no Brasil, após a morte de mais de 300 enfermeiras e enfermeiros na batalha contra o coronavírus. Para Almeida, a maior parte das mortes teria sido evitada com “a adoção de rígidos protocolos de segurança”. Hoje (28) já são 318 os óbitos e 30.043 os casos reportados de contaminação entre os profissionais. É o que indica o Observatório de Enfermagem do Cofen.
Almeida respondeu as seguintes questões do Brasil de Fato RS:
Brasil de Fato Rio Grande do Sul – O Brasil ultrapassou a marca de 300 profissionais de enfermagem mortos na pandemia do coronavírus. Que comentário faz sobre este patamar, o mais elevado do mundo?
Walkirio Almeida – É uma situação gravíssima, que temos acompanhado com muita preocupação. Os Conselhos de Enfermagem já inspecionaram 16.120 instituições em todo o Brasil, entre levantamentos situacionais e fiscalizações in loco, desde o início da pandemia e constatamos problemas graves, especialmente no que tange aos equipamentos de proteção individuais (EPIs). Podemos afirmar que grande parte destas mortes teriam sido evitadas com a adoção de protocolos rígidos de segurança.
BdFRS – A que se devem tantas mortes?
WA – O alto índice de contágio e mortalidade entre os profissionais de Enfermagem está relacionado à insuficiência e inadequação dos Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs), bem como ao avanço da epidemia no Brasil, com mensagens contraditórias e falta de apoio governamental ao isolamento social. A sobrecarga de trabalho, que é crônica mas foi agravada no contexto da pandemia, também contribui para a vulnerabilidade, assim como a relutância em afastar profissionais integrantes de grupos de risco, que não deveriam atuar na linha de frente. A fiscalização dos Conselhos de Enfermagem constatou que o défice das equipes chega a 23.961 profissionais, prejudicando assistência na pandemia.
BdFRS – Qual o peso em tantas vidas perdidas do fato de haver, na presidência da república, um presidente que rejeita o isolamento, o distanciamento, geralmente não usa máscara e propõe curas não referendadas pela ciência?
WA – A adoção de políticas de Saúde baseadas em evidências é fundamental para salvar vidas. O distanciamento social é a principal arma contra a pandemia. Acompanhamos com muita preocupação qualquer ação, discurso ou medida que possa enfraquecer o frágil isolamento social. Nós estamos abertos a atuar conjuntamente com o Ministério de Saúde, as Secretarias Estaduais e Municipais, gestores de todos os níveis de assistência e a sociedade em geral. O Brasil precisa de uma resposta articulada à crise sanitária.
BdFRS – Se a média atual não se alterar e pandemia prosseguir durante mais dois meses, mais 150 profissionais de enfermagem podem morrer. O que o Cofen pode fazer a respeito?
WA – Estamos trabalhando para conter esse quadro, por meio de ações contínuas de fiscalização, ações judiciais e sensibilização dos gestores. Já tivemos uma desaceleração das mortes de profissionais de enfermagem em julho e nosso objetivo é que esta tendência se consolide. O escopo de atuação dos conselhos, porém, é limitado. O Brasil precisa de uma resposta uníssona e articulada à pandemia e, neste momento, ela passa pelo isolamento social, além da estruturação dos serviços de Saúde, inclusive por meio de investimentos significativos em insumos e recursos humanos.
FONTE: BRASIL DE FATO
FOTO: Emmanuel Denauí