Racismo está mais explícito desde a eleição de 2018, avalia professor vítima de ataque

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Juarez Xavier considera que a mídia tradicional tem colaborado com a ascensão de ideais violentos, ao colocar no mesmo nível opiniões sem embasamento e informações de pesquisadores

São Paulo – Vítima de uma tentativa de assassinato em um ataque racista na última quarta-feira (20), o professor de jornalismo da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Juarez Xavier, avalia que o racismo está mais explícito e declarado desde a eleição de 2018, que levou ao poder o atual presidente Jair Bolsonaro. “Sem dúvida alguma. Parece que essa caixa de pandora que foi aberta com o processo eleitoral trouxe para a vida pública tudo que havia de mais reprimido no debate político-social brasileiro, a partir de uma perspectiva que não é apenas conservadora, é de extrema direita”, disse, em entrevista à Rádio Brasil Atual.

Para Xavier, existem alguns elementos-chave nesse momento de explicitação do racismo, que tem se tornado uma realidade “lamentavelmente comum nas últimas eleições pelo mundo afora” e que depois vão validar comportamentos racistas e violentos na população. Como nos casos envolvendo os deputados federais Coronel Tadeu e Daniel Silveira, ambos do PSL. O primeiro destruiu um quadro de uma exposição do Dia da Consciência Negra, na Câmara Federal, que denunciava o racismo em ações policiais. Já Silveira afirmou que mais negros morrem em ações policiais por que se envolvem mais com crimes.

“Nós precisamos fazer o debate da questão étnica-racial porque não é um problema de pretos no Brasil, é um problema da sociedade brasileira. E esse tipo de comportamento impede o debate aberto, democrático, racional, que possa encontrar alternativas para superar o problema da violência. Atos como esse, em especial, no Congresso Nacional, impedem, bloqueiam, não criam as condições apropriadas para que o debate seja feito na esfera pública. E retroalimentam a violência”, explicou o professor.

Xavier também criticou a imprensa por colaborar com a ascensão de ideais violentos, ao colocar no mesmo nível opiniões sem embasamento e informações de pesquisadores. “A polarização criou uma falsa equivalência em que, ao mesmo tempo que você tem uma informação qualificada, baseada em dados factuais, de anos de pesquisa, ao lado você tem uma opinião desqualificada, uma opinião de senso comum, que não faz avançar no debate. E, ao coloca-las no mesmo nível, essa falsa equivalência tem ajudado na divulgação de informações racistas, homofóbicas, machistas, que não contribuem com o desenvolvimento social do nosso país”, afirmou.

Ouça a entrevista completa:

FONTE: REDE BRASIL ATUAL
FOTO: CRISTIANO ZANARDI/FOLHAPRESS

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